A morte do Papa Francisco desencadeou um período de luto no Vaticano e sinaliza o início de um processo milenar de escolha de um novo pontífice.
É um procedimento muito tradicional, mas que foi sutilmente atualizado para o mundo moderno.
Cardeais – altos funcionários da Igreja nomeados pelo papa – de todo o mundo devem se reunir para o conclave em que o sucessor de Francisco é escolhido. Normalmente, a escolha de um papa leva de duas a três semanas, embora o prazo possa se estender um pouco além disso se os cardeais tiverem dificuldade para chegar a um acordo sobre um candidato.
O processo de votação é mantido em segredo, mas ocorrerá com os olhos do mundo voltados para o Vaticano e em meio ao intenso escrutínio da Igreja Católica — uma instituição cuja reputação foi manchada pelo escândalo de abuso sexual infantil dentro de suas fileiras, ofuscando os legados de sucessivos papas.
Enquanto isso, um cardeal dos Estados Unidos assumiu a chefia interina do Vaticano até que um novo papa seja eleito. O Cardeal Kevin Farrell, nascido na Irlanda e naturalizado americano após muitos anos de ministério nos Estados Unidos, ocupa o cargo de “camerlengo”, ou camareiro.
Mais tarde na segunda-feira, Farrell selou o Apartamento Papal do Palácio Apostólico, a residência tradicional do papa, para marcar o início do período de luto. O apartamento não foi usado por Francisco, que morava na Casa Santa Marta.
O fechamento da residência papal é um gesto simbólico que historicamente serviu para impedir saques à residência papal. Simboliza o fim formal do pontificado de Francisco.
Aqui está o que você precisa saber sobre os próximos dias e semanas.
O que acontece durante o período de luto?
O “Interregno Papal” – o período entre a morte de um papa e a eleição de outro – começou com a morte de Francisco. Francisco, aos 88 anos, morreu de derrame e insuficiência cardíaca na Casa Santa Marta, sua residência no Vaticano, na segunda-feira.
Os cardeais agora precisam decidir exatamente quando o funeral poderá ocorrer e, depois disso, quando o conclave poderá começar. Mas grande parte do cronograma está predeterminado; a morte do papa desencadeou o início de nove dias de luto, conhecidos como Novendiales, e o papa deve ser sepultado entre o quarto e o sexto dia após a morte.
Enquanto isso, o papa será colocado em um caixão e ficará em câmara funerária por vários dias até o funeral.
O corpo do Papa Francisco poderá ser velado na Basílica de São Pedro para que as pessoas possam comparecer e prestar suas homenagens já na quarta-feira, disse um porta-voz do Vaticano na segunda-feira.
Pessoas em luto formaram filas por quilômetros para ver o corpo do Papa João Paulo II, o último pontífice em serviço a morrer, em 2005.
É provável que eventos não oficiais ocorram simultaneamente em Buenos Aires, onde Francisco morou antes de se tornar bispo de Roma. Em Varsóvia, mais de 200 mil pessoas se reuniram no local onde João Paulo II, então Karol Wojtyla, retornou como novo papa em 1979.
Ao final do período de luto, uma grande missa de corpo presente será celebrada na Basílica de São Pedro. Este é um evento historicamente grandioso, com a presença de dignitários de todo o mundo. O funeral de João Paulo II contou com a presença do então presidente George W. Bush e de seus dois antecessores, Bill Clinton e George H. W. Bush.
Francisco declarou seu desejo de ser enterrado em um túmulo “simples” no solo da Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, uma importante igreja católica e basílica papal. Ele havia providenciado um benfeitor não identificado para cobrir as despesas de seu sepultamento, de acordo com seu testamento divulgado pelo Vaticano.
“O túmulo deve ser enterrado; simples, sem decoração especial e com a única inscrição: Franciscus”, diz o comunicado.
Quando começa a eleição de um novo papa?
Quando um papa morre, o decano do Sagrado Colégio Cardinalício convoca uma reunião com todos os cardeais elegíveis para votar – aqueles com menos de 80 anos. Todos devem viajar ao Vaticano para isso. Atualmente, há 136 cardeais elegíveis. Mas vale lembrar que, em 1996, João Paulo II fixou em 120 o número máximo de cardeais autorizados a participar.
Não se espera que o conclave comece antes de 15 dias, nem depois de 20 dias, após a morte do papa — embora possa começar antes se todos os cardeais eleitores chegarem a Roma rapidamente.
Dentro da Capela Sistina, a sede codificada do conclave, cédulas de papel são distribuídas a cada cardeal, que escreve o nome do candidato escolhido abaixo das palavras “Eligo in Summum Pontificem” (latim para “eu elejo como sumo pontífice”).
Tecnicamente, qualquer homem católico romano pode ser eleito papa. Mas o último papa não escolhido pelo Colégio Cardinalício foi Urbano VI, em 1379.
Ao terminarem, cada cardeal — em ordem de antiguidade — caminha até o altar para depositar cerimoniosamente sua cédula dobrada em um cálice. Os votos são então contados e o resultado é lido para os cardeais.
Se um cardeal receber dois terços dos votos, ele se torna o novo papa.
Podem ser realizadas até quatro votações por dia – duas pela manhã e duas à tarde – no segundo, terceiro e quarto dias do conclave. O quinto dia é reservado para um intervalo para oração e discussão, e então a votação pode continuar por mais sete rodadas. Depois disso, há outro intervalo e o padrão é retomado.
